Fonte: Ademi
Houve época – fala-se aqui do início do século XX – que as corridas de cavalos eram espetáculos esportivos que desbancavam o futebol. O turfe pode não estar mais com essa bola toda, mas ainda é a atividade fim que movimenta investimentos de quem comanda o Jockey Club Brasileiro, abrigo do Hipódromo da Gávea e sede do maior evento de corridas de cavalo do país, o GP Brasil. Patrimônio tombado e cujo terreno se estende por 640 mil metros quadrados, ele atravessa mais de oito décadas consolidando seu status como uma espécie de minicidade. Hospital veterinário, escola regular, escola técnica, vilas, clube para sócios, galerias de arte, teatro, cinema, restaurantes e outros espaços ainda por vir entram na conta. Essa é a estrutura que, aliada a eventos abertos ao público geral, instiga especialmente os novos frequentadores a dar uma esticadinha para ver a performance de um cavalo no páreo e, quem sabe, se entregar ao hobbie de apostas.
Junto às pistas está o Inverso Gávea, novidade mais recente no circuito gourmet, já abastecido com opções como Rubaiyat, Prado Grill, Palaphita Gávea, Derby Bar/Favoritto e Bagatelle Rio. Seu deque externo foi estrategicamente posicionado com vista do Cristo Redentor ao Leblon, e comporta cerca de 60 pessoas. Já no salão interno, ele oferece monitores para a transmissão dos principais páreos do turfe mundial. Ao fim das corridas, baixa-se a luz e o local ganha ares de bar esportivo ou, conforme a programação do dia, abre-se uma pista de dança. A ideia dos sócios Alexandre Moreira Leite, Marcelo Ricardo Roza e Alessandra Almeida Lapa foi instaurar um clima descontraído próprio do tipo carioca. E a clássica arquitetura do Jockey se redesenha com toques modernos.
– O Jockey é um dos lugares mais bonitos da cidade. A entrada no Hipódromo da Gávea é gratuita e, além disso, tem estacionamento e segurança 24 horas por dia, o que é muito importante hoje em dia. O Inverso Gávea nasceu da ideia de compartilhar este espaço, que tem uma vista incrível; são 180 graus da Cidade Maravilhosa. E ainda tem os cavalinhos passando ali do lado. Quem vem, volta – afirma Leite.
Outro complexo a se erguer, em uma área de três mil metros quadrados até então desativada, abrange a Vila Portugal, que, no final do ano passado, inaugurou a primeira das galerias de arte previstas para a revitalização do campo. Uma delas, a Carpintaria, tem origem paulista, sob comando do grupo que administra a Fortes D’Aloia & Gabriel (antiga Fortes Vilaça). Estão no radar ainda a Casa Camolese, de Vik Muniz e Cello Macedo; a nova sede da galeria Nara Roesler; e a OM.Art, de Oskar Metsavaht, além da Cervejaria Therezópolis/St. Gallen.
Ao lado da Carpintaria, haverá em breve uma primeira via de acesso a pedestres, na Rua Jardim Botânico, e outros dois pontos mais à frente.
– É muito curioso o jeito como a Gávea se isola do Jardim Botânico. A Praça Santos Dumont é aqui do lado; as pessoas atravessam e vão para o Nirvana. Agora elas terão outros motivos para atravessarem. Então, essa zona cinza, que era exatamente onde estamos, está deixando de ser cinza e passando a ter uma vida de pedestres. Antes do Rubaiyat isso aqui era um muro, que só passava de carro, não tinha que fazer a pé, nem onde entrar. Tendo o que visitar, acho que isso aqui vai virar realmente um point, um espaço público da cidade, lugar de troca e de encontros – vislumbra Alex Gabriel, um dos sócios da galeria.
Mesclar tradição e modernidade pode ser a chave para resgatar o prestígio do turfe, acredita Luiz Alfredo Taunay, ex e atual presidente do Jockey Club Brasileiro:
– Está prevista, para o mês de julho, a reabertura do Teatro do Jockey, todo reformado. Vai ficar um belo espaço, revitalizando uma área de cultura que os intelectuais lamentavam muito ter sido fechada. É mais um atrativo para conquistar novos frequentadores porque durante as Olimpíadas o Jockey teve uma receita muito boa, e agora nós temos que tentar recursos adicionais. Ele tem uma despesa muito alta e, se for viver só do faturamento do turfe, hoje, será um prejuízo enorme.
É a Tribuna Social que recebe a maioria dos eventos no Jockey. O mais novo projeto a movimentar o local é o Turf e Beer, festival de cerveja artesanal que deve ter edições anuais. O tradicional Rio Open já tem data marcada e chegará ao local entre os próximos dias 20 e 26 de fevereiro. A última edição do torneio de tênis, de repercussão internacional, atraiu cerca de 45 mil pessoas.
Dentro do projeto de revitalização do clube para associados, as quadras dedicadas a esse esporte ganharam iluminação especial. Foi criado ainda um parque de patinação. Outros espaços, como o salão de festas e o parque infantil, foram repaginados. Uma nova piscina também foi erguida na área.
Planos para virar o jogo das apostas
Guardião da portaria da Tribuna Social, Francisco José de Souza é o guru de muitos apostadores do Jockey Club. Sempre com um sorriso no rosto, ele dá as coordenadas aos visitantes enquanto organiza de forma metódica o malote impresso do programa oficial das corridas do dia. Para seu Francisco, como é chamado, não tem tempo ruim em seu escritório de trabalho ao ar livre.
– Sou um privilegiado nesse paraíso, de frente para o Cristo. Eu dobro em média 150 programas por dia. Já deixo de maneira que o apostador possa ler com facilidade e não precise abrir esse papel grandão no meio da corrida. E também já marco com caneta vermelha os cavalos que estão excluídos (com antecedência) do páreo no dia – conta.
Ele também tem seu cavalo preferido, o Bal A Bali, considerado líder inconteste e destruidor de recordes com forte aceleração nos últimos 400 metros. Mas este já foi cooptado pelos que comandam o turfe americano.
O presidente Luiz Alfredo Taunay lembra que o turfe na década de 1950 tinha como concorrente a Loteria Federal, às quartas e sábados.
– De uns anos para cá, essa concorrência aumentou brutalmente; tem todo tipo de modalidade de aposta e com resultados instantâneos; então, ele ficou um pouco atrasado nesse sentido. As receitas do Jockey diminuíram e a crise do país em diversos momentos também prejudicou o número de apostas, agora mais do que nunca – diz Taunay.
Para facilitar os lances, no final de 2015, o Jockey firmou parceria com o Pari Mutuel Urbain (PMU), operador francês de apostas hípicas, considerado o terceiro maior do mundo. Outra medida, já em curso, é a transmissão de corridas do Jockey para o exterior e vice-versa. A direção tem expectativas ainda de concretizar um projeto de lei, em trâmite na Câmara e no Senado, para legalizar outros jogos associados à sorte (ou azar).
– Devido à enorme crise que o turfe nacional atravessa há décadas, queremos incrementar a atividade via aprovação dessa lei que viabilizaria a abertura de jogos com máquinas de caça-níqueis, como existe em outros países, com grande sucesso, como na Argentina, no Uruguai e nos Estados Unidos – diz o presidente.
Totalmente gratuita, a Escola do Jockey Club Brasileiro (EJCB), fundada há 70 anos, tem em torno de 500 alunos, matriculados entre o primeiro e o 9º ano do ensino fundamental. Ela recebe estudantes das comunidades que cercam o Jockey, como Rocinha, Vidigal e Parque da Cidade, e foi concebida para atender a filhos de seus funcionários e profissionais do turfe. A instituição é vizinha do Teatro do Jockey, que passa por reforma.
– É uma escola considerada modelar pela qualidade do ensino que oferece. E tem alimentação e assistência dentária e médica. Há uma procura enorme por vagas, tem fila de espera. A preferência é dada a filhos de funcionários do Jockey – diz Taunay.
Há ainda a Escola de Profissionais do Turfe (EPT), que prepara crianças para serem jóqueis. Os alunos recebem alojamento, uniforme, refeição, avaliação médica e odontológica periódica, INSS, acompanhamento físico e apoio financeiro. Numa caderneta de poupança, é depositado um percentual dos prêmios, que pode ser retirado somente ao final do curso.
O site oficial do Jockey Club (www.jcb.com.br) tem boas instruções para quem deseja se aventurar no universo do turfe, inclusive com dicas sobre como apostar em cada categoria da modalidade. A mais simples, chamada Vencedor ou Ponta, está entre as preferidas de turfistas. E funciona assim: escolhe-se um cavalo e só ganha se ele chegar em primeiro lugar. O valor a ser apostado é escolhido pelo participante. É possível também fazer apostas on-line no portal.