Fonte: Bom Dia Rio
Moradores contemplados pelo programa “Minha Casa, Minha Vida” em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, estão há três anos esperando a entrega dos apartamentos. A obra ficou pronta há um anos, mas a burocracia está transformando a vida das pessoas num pesadelo.
A dona de casa Clarice Andrade mostra as fotos do apartamento que vai ser dela. Mas ela já está há três anos vivendo em condições precárias, dormindo no chão, esperando a entrega do imóvel.
“Então, como eu tem muita gente no aluguel aí sofrendo. São muitas pessoas passando necessidade, com as mobílias arrumadas, com as mudanças nas caixas, com os inquilinos mandando embora, porque está na hora de sair, desocupar a casa. Meu neto mesmo, meu filho vai sair da casa”, contou Clarice.
Esses moradores foram sorteados em 2014 para receber apartamentos do Minha Casa, Minha Vida no bairro Jardim Guandu, em Nova Iguaçu. Muitos moram em casas da região onde o alagamento é constante.
“Mora eu, meu filho de 15 anos e outro de 22, que é especial. Minha casa enche, já perdi três guarda-roupas, não tenho nem mais guarda-roupa minhas roupas ficam na prateleira. Acordou no meio da noite, está chovendo, a gente nem dorme. Porque a gente tem que ficar tomando conta do rio” disse a dona de casa Mere Regina de Souza.
Desde outubro do ano passado, metade dos imóveis, cerca de 1.440, já estão prontos e já até passaram por vistoria. O que os moradores não entendem é o porquê do portão continuar e eles ainda não estarem ocupando os apartamentos.
O Bom Dia Rio procurou a Prefeitura de Nova Iguaçu, que é responsável pela entrega desses apartamentos, que disse que o cadastro dos sorteados sumiu na gestão anterior. Por isso, houve esse atraso. Foi preciso recadastrar os moradores. A prefeitura disse também que as obras estão na fase final e que os contemplados estão no processo de assinatura de contrato. O último prazo dado para os moradores foi mantido: entre meio de maio e começo de junho.
Sobre o sumiço dos cadastros, o Bom Dia Rio procurou a gestão anterior, do ex-prefeito Nelson Bornier, mas não conseguiu contato.
A dona de casa Frances Scotta diz que o primeiro prazo para receber os apartamentos foi junho de 2014. Em dezembro de 2016, veio a promessa de que eles passariam o Natal na casa nova. O novo prazo dado pela Prefeitura de Nova Iguaçu é junho deste ano. Só que o pessoal já não sabe se vai receber o imóvel em bom estado.
“É horrível, é uma tristeza. A gente sabe que imóvel vazio, o que acontece com ele? Estraga. É o que está acontecendo, com muitos imóveis aí dentro, alguns já estão estragando e eles estão fechados há muito tempo e a gente aí precisando para sobreviver”, disse a desempregada Luciana Leite.
A situação desse conjunto residencial de Nova Iguaçu não é isolada. O Ministério das Cidades calcula que em mais de 20 mil unidades habitacionais de todo o estado isso se repete.
Com a foto da casa onde mora, a vendedora Gisele Samuel só quer saber quando vai ter a chance de mudar de endereço e de vida.
“Agora eu pergunto: até quando a gente vai ter que ficar na enchente? Até quando a gente vai ter que passar por essa humilhação? Saber que nossa casa está pronta e não poder entregar?”, indaga Gisele.
“Estou com 60 anos. Quantos anos eu estou esperando, eu vou morrer? Já morreram duas. Duas pessoas já morreram esperando isso aqui. Será que esse banco aí, esse pessoal, não sei quem aí é o culpado, poxa, não tem coração não? Não tem mãe, não tem pai?”, questiona Clarice.