Grupo reivindica parque em área do antigo Aeroclube destinada pela PCR para programa de habitação popular

Fonte: Folha PE

 Lugar que inspirou lenda urbana, em meados do século 20, registrada por Gilberto Freyre em “Assombrações do Recife Velho”, a localidade Encanta Moça, onde funcionou o Aeroclube de Pernambuco, no bairro do Pina (Zona Sul), é alvo de uma questão urbanística. Após a prefeitura haver anunciado destinar o local prioritariamente à habitação popular, um movimento de profissionais liberais e moradores sugere mudanças no projeto para transformar o terreno num parque. A principal queixa gira em torno do fato de a gestão municipal não haver realizado consulta pública antes de definir o fim para a área.

No livro, Freyre conta a lenda da jovem perseguida pelo marido ciumento que se encantou no mangue dando nome ao sítio. Da época da transformação do terreno em um moderno campo de aviação, tal denominação, inspirada na lenda, teria sido vista como uma vergonha.

Para a população mais recente, a referência sempre foi o Aeroclube. Após a desapropriação da área visando a construção da Via Mangue, parte do terreno de 15 hectares ficou ociosa. A Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) decidiu utilizar o espaço para um projeto de habitação popular, numa primeira etapa dando moradia a 106 famílias que ficaram sem suas casas devido à Via Mangue, e em seguida realocando outras centenas que vivem precariamente na Zona Sul, como a da comunidade do Bode (Pina).

Um dos porta-vozes do movimento Aero Parque Encanta Moça (facebook.com/aeroparqueencantamoca), o agrônomo e empresário Celso Ricardo Ribeiro, ex-morador do local, explica que o grupo defende, antes de tudo, consulta pública sobre o destino do local. “Entendemos que a habitação é prioridade zero para a população, mas falta um planejamento, um estudo. Ninguém é contra habitação. A gente é a favor do debate, que a prefeitura não enfie (o projeto) de goela abaixo.”

Ainda de acordo com o empresário, a gestão municipal planeja construir quatro conjuntos habitacionais beneficiando três mil famílias. “Ninguém aqui é ‘ecochato’. A gente precisa de uma descompressão e não a privatização do espaço (público)”, diz. “A gente está convocando o máximo possível a população para essa discussão, quer ela envolvida nesse processo. O mundo todo está pegando áreas degradadas e transformando em áreas de lazer. Aqui tem uma área pronta para o lazer e o pessoal (a administração pública) quer fazer o mais fácil.”

Além de profissionais como advogados, publicitários, promotores, empresários e arquitetos, o movimento Aero Parque Encanta Moça já conta com a adesão de membros de ONGs e alguns políticos. O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), anunciou nas redes sociais seu apoio ao projeto do parque. “Talvez seja uma das últimas oportunidades de uma grande área verde planejada para atender às futuras gerações. Contem comigo”, escreveu.

O advogado e ex-candidato a vereador do Recife Zé Neto (PV) engrossa o coro. “A gente está precisando humanizar nossa cidade. Esse imediatismo é uma opção ruim.”

Seja qual for o projeto, terá área de lazer 
O fato é que a construtora OTL Engenharia já aprontou o canteiro de obras para a construção do primeiro conjunto habitacional Encanta Moça. Orçado em R$ 11 milhões, o projeto tem 12 meses para ser executado, com recursos próprios do município. Mas, de acordo com Norah Neves, presidente da Empresa de Urbanização do Recife (URB), órgão da PCR responsável pelo projeto, esse prazo deve ser adiado. “A obra é muito complexa. Vai ser algo em torno de um ano e meio”, adianta. “O terreno é muito ruim. Está sendo feita a terraplenagem, inclusive, com a troca de solo.”

A gestora confirma que serão beneficiadas 106 famílias da comunidade do Bode, ainda não definidas. Apenas um cadastro foi realizado. As edificações, além de unidades habitacionais, contarão com 28 lojas comerciais. A ideia é que o total de moradias chegue a 300 unidades.

Ainda segundo a presidente, a PCR sabe da reivindicação do movimento Aero Parque Encanta Moça. “Existe o compromisso de transformar (parte da área) também em parque. Pode ser contemplativo ou de usufruto.”

O espaço adquirido pela prefeitura é de 418,3 mil m². Parte foi utilizada para a construção da Via Mangue. Outros 197 mil m² constituem uma zona de manguezal, que será preservada. “É lei municipal”, afirma. Para os habitacionais sobram 151 mil m², dos quais apenas 50% podem ser destinados a edificações.

“A prefeitura está fazendo um estudo, por meio do Instituto da Cidade, e terá um parque”, garante Norah. “Existe um compromisso da primeira gestão do prefeito, da época da primeira campanha, de construção de um habitacional. A prefeitura não fez antes porque teve dificuldade na aprovação. Mas não é um compromisso transformar tudo em parque.”

Sobre outro questionamento, o de não ter havido consulta pública, a presidente explica que isso só vai ocorrer quando o estudo urbanístico estiver concluído.

Fo