Mercado da bola e de imóveis

Nos nove primeiros meses deste ano, o futebol mineiro contratou ou dispensou quase três atletas por semana. E, nesse entra e sai do mercado da bola, outro mercado também costuma ficar agitado: o imobiliário. Diante de um público singular – só comparado a executivos de multinacionais –, que não costuma se fixar na cidade, mas que é dono de suntuosos contracheques, as corretoras de imóveis, com o auxílio dos clubes e de jogadores mais longevos, tratam de absorver essa clientela, delimitando até as melhores regiões.

Com os centros de treinamentos de América, Cruzeiro e Atlético localizados nas áreas Norte e Pampulha de Belo Horizonte, a maioria dos atletas novatos opta por morar em bairros próximos, como Castelo e Ouro Preto. Só em um condomínio de alto padrão da região moram dez jogadores, o que cria até uma rotina de caronas.

“Nessa última concentração (contra o Vitória), eu trouxe o Yuri. Ás vezes, o (Rafael) Carioca vem comigo, já que a gente é vizinho”, conta o volante Júnior Urso que, chegou a morar no bairro São Bento, na região Centro-Sul da capital, mas mudou-se para o Castelo justamente por indicação de Carioca.

Normalmente, é assim mesmo que funciona. Os clubes não têm corretores próprios, mas conta com a velha hospitalidade mineira para assistir um recém-chegado. “O que acontece muito hoje é o jogador que chega e pede uma indicação para outros jogadores. Mas o Cruzeiro ajuda a apresentar a cidade, indica corretores, imóveis ou regiões”, explica o diretor de comunicação do Cruzeiro, Guilherme Mendes.

Em Belo Horizonte desde 2009, o zagueiro Leonardo Silva, que defendeu a Raposa nos dois primeiros anos, é um dos mais requisitados no quesito indicação. “Todo mundo sabe que Lourdes, Savassi, Funcionários, Belvedere são locais bons de moradia, mas distantes do treinamento. Castelo e Ouro Preto são regiões boas de se morar, com imóveis de boa qualidade, e os atletas acabam optando por estar mais próximo ao treinamento”, destaca o defensor alvinegro.

Estrangeiros

Vizinhança. A Pampulha virou reduto dos gringos recentemente contratados pelo Cruzeiro. “Todo mundo está morando perto. Isso ajuda na adaptação a BH”, conta o volante Lucas Romero.

ESCOLHA

Apartamento mobiliado é preferência

Os jogadores que chegam a capital mineira normalmente querem alugar moradias já mobiliadas, o que não tem tanta oferta na cidade. Um apartamento com móveis na região Centro-Sul tem aluguel na faixa dos R$ 6.000.

Outra prática entre os boleiros é alugar casas de ex-jogadores que passaram por Minas ou mesmo de mineiros que não atuam mais por aqui.

“O Jonathan (lateral, hoje no Fluminense) e o Wagner (atualmente no Tianjin Teda, da China) são alguns que costumam alugar suas casas. Isso é normal no futebol”, conta o volante Henrique, que jogou pelo Cruzeiro de 2008 a 2011, foi para o Santos e voltou em 2013. (TN)

LAGOA SANTA VIRA TENDÊNCIA

Efeitos. Lagoa Santa, na região metropolitana, virou opção de moradia de jogadores, alavancada pela passagem de Ronaldinho Gaúcho pelo Atlético. Mas, curiosamente, o condomínio onde o craque morou não voltou a receber atletas. Lá, o aluguel é mais caro, entre R$ 10 mil e R$ 20 mil. Cazares, do Atlético, e Rafael Sóbis, do Cruzeiro, optaram pela região, mas em outro condomínio.

Atrativos. “Lagoa Santa é próximo aos CTs e mais desenvolvida que Vespasiano e Pedro Leopoldo. As escolas são melhores, os condomínios, de alto padrão, com conforto, segurança e mais qualidade de vida”, destaca a corretora Raquel Leandro Soares, da Morar Bem Imóveis.

PERFIL E PROCURA

Padrão. Os jogadores de Atlético e Cruzeiro têm salários que variam entre R$ 20 mil e R$ 500 mil. No América, os salários já são mais “modestos”. Essa variação reflete no tipo de moradia procurada. Portaria, segurança e área de lazer são os itens mais solicitados.

No caso de apartamentos, muitos querem cobertura para ter mais privacidade e descontração nas folgas.

Saídas repentinas causam atrito com os donos

A profissão de jogador de futebol é instável. De um dia para o outro, ele pode receber uma proposta, assinar com um clube e mudar de cidade ou país. Essa característica atrapalha a locação de imóveis.

“Alguns ficam dois, três meses e vão embora. É difícil ter a certeza de que vão ficar 12 meses, mas o mercado vai se adaptando a isso”, destaca o diretor da Alto Luxo BH Negócios Imobiliários, Paulo Márcio Bretz, que atende muitos atletas na região Centro-Sul.

Nessas horas, o corretor precisa saber conduzir o distrato. “É problemático. Acaba tendo um desgaste com o atleta, com o proprietário, com o corretor. Tem que ter jogo de cintura, mas, às vezes, o proprietário é flexível”, explica Anderson Santos, diretor da BH Mais Imóveis, que tem clientes na região da Pampulha.

Em caso de quebra de contrato, a multa é proporcional ao restante do contrato, mas, normalmente, um acordo é feito com o locatário, que paga três meses do valor do aluguel. “Mas a legislação diz que, quando o funcionário é transferido para fora do Brasil, ele não precisa pagar multa contratual”, ressalta Bretz. (TN)