Fonte: Extra
SÃO PAULO — A cidade de São Paulo tem 3,4 mil imóveis avaliados em R$ 8,5 bilhões que estão ou estiveram registrados em nomes de offshores, empresas abertas em países que garantem o anonimato de seus donos. Os dados são de investigação da ONG Transparência Internacional, que será divulgada hoje. Para a entidade, o levantamento acende o alerta para o risco de uso do setor imobiliário para lavagem de dinheiro, evasão fiscal e fraude na maior cidade brasileira.
O estudo “São Paulo: a corrupção mora ao lado?” traz informações sobre as 236 offshores que detêm os imóveis, 87% delas registradas em cinco lugares: Ilhas Virgens Britânicas, Delaware (EUA), Panamá, Suíça e Uruguai. Juntos, os imóveis ocupam uma área total de 7,4 mil campos de futebol. A pesquisa está centrada só na cidade de São Paulo e inclui empreendimentos comerciais, como shoppings e salas de escritório, e imóveis residenciais.
Há exemplos de investimentos realizados por fundos imobiliários americanos no Brasil, mas também de empresas cujos representantes não quiseram dizer ao GLOBO quem são os verdadeiros donos do patrimônio. A lei permite que qualquer brasileiro tenha uma empresa em paraíso fiscal. No entanto, é necessário que a operação esteja declarada em seu Imposto de Renda.
No estudo, a Transparência Internacional frisa que não é possível dizer que todas as companhias citadas “tenham infringido a lei ou agido de forma inapropriada”. Mas cita pesquisa semelhante do escritório da ONG na Inglaterra sobre a cidade de Londres. O estudo revelou, em 2015, que 75% das propriedades de investigados por corrupção estavam registrados como offshores.
— O fenômeno da corrupção é complexo, com muitas variáveis e formas de reduzir seu risco. Uma dessas formas é dificultar os mecanismos usados para se lavar dinheiro — diz o pesquisador Fabiano Angélico, autor da investigação.
O especialista cita o imóvel onde morava o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, em Ipanema, no Rio, registrado em nome de offshore uruguaia, objeto de contrato fictício de aluguel. Ele critica a falta de propostas de combate e prevenção à corrupção em meio ao momento mais difícil do país em relação ao tema.
A maior parte das propriedades citadas está em áreas mais nobres de São Paulo. A Avenida Paulista concentra 195 delas em nome de offshores, com valor de R$ 120 milhões. O corredor das avenidas comerciais Chucri Zaidan e Berrini tem outras 820, que valem mais de R$ 1 bilhão.
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