Já passam de 16 mil os apartamentos e casas oferecidas para aluguel sem encontrar quem possa pagar por eles
Fonte: Jornal de Brasília
Placas indicando imóveis vagos para aluguel se multiplicam pela cidade. Com a recessão, cada vez mais inquilinos entregam as chaves e as unidades ficam vazias. Não há procura e o Distrito Federal acumula quase 16 mil unidades que só juntam poeira com a ausência de moradores. Quem já garantiu sua residência, tenta negociar o valor e evitar o reajuste. O cenário é ruim para os donos das propriedades.
De acordo com o Boletim Imobiliário do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), a quantidade de imóveis vagos destinados à locação em agosto era de 15.994, 4.688 unidades a mais que o mês anterior. O aumento da demanda, de mais de 22%, segue uma tendência identificada pelo setor desde fevereiro deste ano. A maior parte dos imóveis disponíveis para aluguel (72,9%) são residenciais. A capital fechou 2015 com 12,1 mil imóveis para alugar, um aumento de 52,6% em comparação ao ano anterior, quando havia 7,9 mil pontos disponíveis.
Segundo o levantamento DMI-VivaReal, o preço dos alugueis no DF teve uma redução de 2,28% no primeiro trimestre de 2016 se comparado ao mesmo período do ano passado. Apesar disso, Brasília ainda tem o terceiro metro quadrado mais caro para aluguel no Brasil. Aqui, o trecho custa, em média, R$ 32,14, atrás apenas de Rio de Janeiro (R$ 33,78) e São Paulo (R$ 35,24).
“Tivemos uma queda de poder aquisitivo no Brasil inteiro e o DF não fugiu à regra. Aumentou a oferta de imóveis para locação e os preços retraíram um pouco pela demanda maior. Há muitos locatários entregando os imóveis ou negociando a renovação dos contratos e os que estão parados têm valores de um ano atrás”, afirmou Hermes Alcântara, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-DF).
Donos correm a negociar
De acordo com o presidente do Creci, os proprietários, diante das dificuldades em alugar, preferem negociar. Perder um inquilino é entrar na incerteza. “O cenário é favorável para os locatários e para quem deseja adquirir um imóvel”, ressaltou o presidente da entidade. Do outro lado, porém, sobram dificuldades.
Funcionária pública, Lucimeire Silveira de 38 anos tenta negociar o reajuste com o proprietário do apartamento onde mora com três filhos em Águas Claras. “O contrato vence em novembro. Já enviei proposta para a imobiliária e liguei quatro vezes buscando por resposta, mas não tive retorno. O tempo está passando e nada é resolvido. Com a crise econômica, os proprietários deveriam manter os inquilinos e evitar deixar os imóveis vazios. Pelo menos entraria dinheiro”, conta.
Nesse ínterim, há pelo menos três apartamentos vagos no prédio onde moram. Os antigos inquilinos não conseguiram manter o valor da locação no orçamento e, enquanto o dono do imóvel não resolve, a busca por uma nova moradia parece uma via sacra. “Estamos fazendo uma pesquisa bem extensa para ver se conseguimos lugar mais em conta que atenda nossas necessidades, mas tudo subiu, inclusive o valor dos alugueis”, diz.
Só encontram preços equivalentes com qualidade inferior. Há direito até para propaganda enganosa. “A gente vê a oferta, nos agrada, mas quando chegamos lá, a realidade nada tem a ver com o anúncio”, reclama.
“Nem deram espaço para negociação. Fixaram o valor e pronto”, contou o estudante Allyson Henrique, 25 anos. Com o valor acima do que pode pagar, ele tem que dividir o apartamento em Águas Claras com um amigo. Ele morava só no Guará, mas sua vida girava em torno da região da nova vizinhança. “Procurei e continuo procurando, mas o valor do aluguel é muito alto”, conta.
Saiba mais
A crise criou até uma figura nova, o pirata de imóvel. Vera Fasanella, administradora de um apartamento alugado, ficou sabendo que o inquilino fora procurado pelo dono de um apê, vizinho, entregue pelo antigo morador, que não tinha como pagar o aluguel. O proprietário tentou cooptar o locatário de Vera, oferecendo-lhe aluguel inferior ao que pagava.
Paulo Muniz, presidente da Ademi diz que o quadro é compreensível: “Quando você tem uma crise financeira como a que enfrentamos, é natural que tenha mais imóveis livres. Acreditamos que seja algo temporário”. As perspectivas, nesse sentido, são boas. “Notamos que, depois da mudança do Governo Federal, a confiança está voltando”, avalia.