Fonte: G1
A ampliação do limite de renda familiar para aderir ao Minha Casa Minha Vida aumenta o potencial de famílias que podem ser beneficiadas pelo programa habitacional do governo federal, mas as mudanças deverão ter impacto limitado para a recuperação do mercado imobiliário, segundo analistas e representantes do setor ouvidos pelo G1.
Com a ampliação do limite de renda familiar para participar – de R$ 6,5 mil por mês para R$ 9 mil – o programa que oferece juros menores que os oferecidos pelo mercado para financiar a casa própria passará a atender também famílias de renda mais alta.
“Passa a ser um programa até para a média renda. Em termos de política pública, acaba atingindo mais pessoas”, avalia Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados.
Para ele, o impacto da medida no mercado imobiliário, contudo, deverá ser pequeno. “Não é isso que irá impulsionar o mercado. A questão macroeconômica ainda é o que pesa, as famílias estão muito endividadas e o crédito ainda está caro”, destaca.
O mercado imobiliário vive um ciclo de queda. Com a corrosão da renda da população e o aumento do desemprego, muitos potenciais compradores não têm confiança ou condições de comprar um imóvel. O volume de concessão de crédito imobiliário se retraiu por dois anos seguidos, com uma queda de 33% em 2015 e de 38% em 2016 frente ao ano anterior, de acordo com dados da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que consideram empréstimos financiados com recursos da poupança.
Na visão do consultor Celso Amaral, diretor da Amaral D´Avila Engenharia de Avaliações, ainda que as mudanças possam criar algum estímulo, o mercado imobiliário deverá continuar sendo pressionado pela renda em queda do brasileiro e taxas de juros que permanecem em patamares muito altos.
O gerente de Inteligência de Mercado do ZAP, José Rafael Zullo, acredita que a mudança atende uma faixa de renda que tinha mais dificuldade em encontrar empreendimentos imobiliários adequados a seu perfil financeiro. Para ele, as incorporadoras deverão adequar seu quadro de lançamentos ao novo perfil atendido pelo programa.
O vice-presidente executivo da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Renato Ventura, avalia que as mudanças no Minha Casa Minha Vida são importantes para manter o funcionamento do programa. “Vemos essa medida como bastante oportuna para voltar a oxigenar o programa”, diz.
Fatores econômicos
A avaliação geral é que o mercado imobiliário dificilmente será um componente indutor da retomada da economia, tendendo muito mais a reagir com algum atraso em relação ao comportamento geral da economia.
“Teve um boom muito forte até 2013. Os preços dos imóveis subiram muito, houve uma procura muita grande. O mercado está digerindo um pouco também esse efeito do boom de antes”, diz Castelli, da Go Associados.
Para Amaral, da D´Avila Engenharia, a maior barreira a novos investimentos no mercado imobiliário são os juros altos. “Se a taxa de juros fosse mais próxima das taxas internacionais, o mercado iria se autorregular. A gente cria uma distorção para vender e depois uma solução para a distorção e assim vai”, critica o consultor, lembrando que o valor total pago ao término do financiamento costuma corresponder a dois ou três imóveis.
O vice-presidente de Habitação do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Ronaldo Cury, disse por nota que as medidas vão estimular a geração de emprego e combater o déficit habitacional. “O governo acerta ao ampliar o número de pessoas que podem ter acesso ao programa, pois irá atender duas necessidades das famílias: emprego e moradia.”