Fonte: O Globo
BUENOS AIRES — Durante a campanha eleitoral argentina, no final do ano passado, o então candidato à Presidência Mauricio Macri foi perguntado sobre seu passado com Donald Trump, na época, um pré-candidato que poucos imaginavam que iria muito longe na corrida pela sucessão de Barack Obama. Sem rodeios, Macri assegurou que Trump “é um cara totalmente maluco” e confirmou que na década de 1980 o grupo empresarial de seu pai, Franco Macri, fez negócios com a família do bilionário em Nova York.
Segundo versões que circularam nos últimos dias na imprensa local, a relação comercial entre os dois grupos foi complicada. Hoje, como todos os demais presidentes latino-americanos, Macri tenta encontrar a maneira de aproximar-se do chefe de Estado eleito dos Estados Unidos e começar a construir uma nova relação, deixando para trás as tensões de um vínculo empresarial que não teria terminado muito bem.
O presidente argentino é o único da região que relacionou-se com Trump no mundo empresarial. O que não está claro é se isso será vantagem ou desvantagem. Ontem, ambos tiveram sua primeira conversa telefônica de 15 minutos, depois de alguns dias de negociações entre a chanceler argentina, Susana Malcorra, e Eric Trump, um dos filhos do presidente eleito. “A Argentina é um grande país e teremos a relação mais próxima da História entre nossas nações”, disse Trump a Macri, segundo informou o governo argentino em nota oficial.
— Quando eu tinha 24 anos negociei com esse cara, totalmente maluco, a venda de uns terrenos (em Nova York). Tive de receber dele um cheque de US$ 600 milhões — contou Macri, no ano passado.
O então candidato disse que Trump era “muito show off, um exibicionista. Ele é um ator… acho que não pode ganhar a eleição, suas posições são extremas”.
— A relação com os Estados Unidos é prioritária, e vamos continuar apostando nela — comentou uma alta fonte da Casa Rosada, que não considerou o passado entre Macri e Trump um obstáculo para o vínculo futuro. — Eles se conhecem bem, e isso para nós é positivo. Teremos ótimas relações com o novo governo.
Os negócios entre as duas famílias foram mencionados em biografias de Macri e de Trump. Segundo a jornalista Natasha Niebieskikwiat, que escreveu um livro centrado no sequestro sofrido por Macri na década de 1990, “os negócios entre ambos foram turbulentos”.
— A relação era mais com o pai de Macri, que teve terrenos em Manhattan e pretendeu entrar para o mercado imobiliário local. Num determinado momento, ele precisou de um crédito do banco Chase e não conseguiu. Sempre se achou que Trump boicotara os negócios da família Macri — disse Natasha.
A jornalista lembrou, ainda, que “na época – meados da década de 1980 – Macri era a grande promessa empresarial argentina, o herdeiro de um dos maiores grupos econômicos do país”.
— Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas as suspeitas são de que Trump jogou sujo com os Macri para impedir que investissem no mercado imobiliário de Manhattan — assegurou a jornalista.
O próprio Macri, em 2015, admitiu ter negociado a venda de terrenos a Trump e recebido um cheque de US$ 600 milhões. O projeto que nunca saiu do papel, segundo Natasha, era a construção de um prédio de 150 andares, em Manhattan.
TRUMP JÁ ELOGIOU MACRI
Depois do incidente, Trump visitou algumas vezes a Argentina e encontrou-se com Macri. Ele já visitou a casa de fim de semana do atual chefe de Estado na região da Grande Buenos Aires e, perguntado pela imprensa sobre amigos argentinos, fez rasgados elogios a Macri.
“Adoro Buenos Aires, uma cidade linda. Conheço grandes homens de negócios, como Macri, um cara legal”, disse ao jornal “La Nación”, em 2012.
O presidente eleito já jogou golfe com o argentino e cada vez que lhe perguntam pela família Macri assegura que “são grandes pessoas”.
— Eles nunca foram amigos, mas se conhecem bem. Agora terão de se relacionar como presidentes, e não mais como empresários — assegurou outra fonte do governo argentino.
Para a Casa Rosada, há quase um ano em busca de investimentos que viabilizem a recuperação da estagnada economia local, o respaldo dos EUA é crucial nos três anos de governo que Macri tem pela frente.
