Fonte: investing.com

Com a queda forte dos índices de inflação ao consumidor, medidos pela FGV, pela Fipe e pelo IBGE, o BC deve fazer a primeira redução dos juros desde a reunião de outubro de 2012, quando a Selic caiu de 7,50% para 7,25%. De lá para cá, os juros só subiram ou ficaram estáveis, veja o gráfico abaixo:

A partir de 2013, a economia brasileira passou a conviver com uma forte aceleração da inflação. O IPCA saiu do intervalo de 5,5%-6% e chegou a 10,70% no início desse ano. As causas já foram amplamente discutidas aqui, mas vale a pena lembrar as duas mais importantes: a forte seca que atingiu as regiões Sudeste e Centro-Oeste, prejudicando de forma a produção de alimentos e energia hidroelétrica, e a desvalorização do real, que saiu de R$ 1,50 para o pico de R$ 4,20 no meio da crise política. Diante desse enorme CHOQUE DE OFERTA. Veja o gráfico do IPCA:

Os alimentos participam de forma importante no orçamento dos brasileiros, pesando cerca de 25% do total dos gastos. Eles têm um comportamento pouco sensível aos juros, dependendo fortemente da taxa de câmbio (grãos, carnes e produtos industrializados) e das condições de oferta (alimentos in natura). Ao longo dos últimos anos, os alimentos subiram mais que caíram. Em 2013 bateram 14% de alta, sendo responsáveis por uma inflação isolada de 3,5% no IPCA. Em agosto desse ano, o acumulado em doze meses dos alimentos ainda estava em 14%, ponto mais alto desde abril de 2013. Veja o gráfico:

O mesmo ocorreu para a energia elétrica. Os reservatórios quase secaram, após três anos de forte seca, forçando o sistema a operar com a energia produzida a partir de óleo diesel. Os custos explodiram e as tarifas subiram no ano passado cerca de 50% em todo o território nacional. Por ter um peso grande na cadeia produtiva, como importante matéria prima, o aumento de energia teve dois impactos: um direto, sentido nas contas de energia elétrica das famílias, outro indireto, a partir do aumento dos custos de produção das matérias primas e bens e serviços finais (como pão, metrô, etc). No ano passado o item habitação, que é influenciado pela energia elétrica e pelas contas de água, subiu 18%. Ele tem um peso de 15% no IPCA. Então, sua influência direta foi de 2,7% no IPCA, mais os efeitos indiretos. Veja o comportamento do item habitação no IPCA:

Note que o item habitação despencou para menos de 5% atualmente. A energia elétrica teve redução e as tarifas de água não subiram tanto como no ano passado. Os reservatórios das hidroelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste estão com 37% de sua capacidade em comparação aos 27% no ano passado.
Em 2015, os itens alimentação e habitação contribuíram diretamente com 6,5% no IPCA.

O choque de oferta, porém, está com seus efeitos se esgotando, como seria de se esperar. Ajudou de forma significativa a queda do dólar, resultante do impeachment. A forte recessão decorrente da crise política também colaborou para que os preços não subissem mais, afinal o desemprego funciona como uma forte âncora nas intenções de reajuste dos agentes.

Em função disso as expectativas para a inflação em 2017 estão caindo e para 2018 também. Com inflação corrente em queda e expectativas bem ancoradas, o BC poderá reagir com uma que dos juros mais rápida e mais agressiva. Dois meses atrás eu projetava a queda dos juros apenas para o final do ano em modestos 0,25%. Agora acredito que o BC os derrube amanhã, em 0,5%. Há a possibilidade elevada de terminarmos o ano com a SELIC entre 13,25% e 13,5%