Fonte: Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário
Na década de 1970, a alta sociedade carioca frequentava assiduamente o Hotel Nacional, único do mundo projetado por Oscar Niemeyer. De 1972 até 1995, o local sediou festas memoráveis, recebeu celebridades como Liza Minneli e B.B. King e foi palco do conceituado Free Jazz Festival. Com sua falência, o prédio ficou nas mãos do governo federal até 2009, quando o grupo HL o arrematou por R$ 85 milhões com a intenção de reabri-lo para a Olimpíada. O prazo não foi cumprido, e a reabertura, agora, foi remarcada para 15 de dezembro – a tempo, pelo menos, de fazer a reinauguração coincidir com o centenário de São Conrado. Rebatizado de Gran Meliá Nacional Rio de Janeiro, em referência à cadeia espanhola que ficará responsável por sua operação, o empreendimento terá também atrações para moradores da cidade. O processo de revitalização tem sido alvo de críticas de parte dos vizinhos, que questionam a previsão de construção de duas torres residenciais anexas ao centro de convenções. O Ministério Público chegou a ser acionado, e a obra ainda não foi autorizada pela prefeitura.
A abertura para os hóspedes está marcada para o dia 15 de dezembro, e as reservas já são feitas pela Meliá. Para honrar o prazo, 1.200 operários trabalham no retrofit do prédio, que, por ser tombado, precisa manter as características originais. O custo total da renovação, incluindo o lance do leilão, é de R$ 430 milhões.
– O Hotel Nacional foi projetado por Niemeyer, com paisagismo de Burle Max, para se integrar com o bairro. Este prédio, como foi projetado, não se encaixaria em nenhum outro local do mundo. Ele é cilíndrico para que os olhos o atravessem e o vejam diante dos morros como parte da paisagem. Os cálculos arquitetônicos foram feitos pensando na linha do horizonte, de modo que de qualquer parte da recepção fosse possível ver o mar à meia distância entre o piso e o teto. Tudo isso que o Niemeyer pensou está sendo mantido, mas estamos colocando ma-
teriais novos e modernos – explica o arquiteto responsável pela reforma, Marcos Leite Bastos.
O vice-presidente da Meliá para o Brasil, Rui Manoel Oliveira, revela que, quando estiver pronto, o hotel terá 413 quartos com vista para a Praia de São Conrado, a Rocinha e a Pedra da Gávea. Existem diversas classificações, e o preço médio de uma diária é de R$ 1.200.
O novo Nacional também terá opções para os moradores do Rio, a começar por seus dois restaurantes. O do lobby terá bufê contemporâneo, e servirá café da manhã, almoço e jantar. O outro, com pratos autorais de um chef internacional ainda não contratado, ficará no 31º andar e será interligado a um bar no andar de cima. O hotel ainda terá outros dois bares. Um, informal, perto da piscina, e o Roof Top Bar, no 33º andar, mais voltado para a badalação, com música e iluminação especial. O andar será cercado por vidros à prova de ruídos.
– A gente chega com o conceito de resort urbano. Não é só para o hóspede que viaja; ele é aberto também para quem está na cidade. Os restaurantes, os bares e as áreas de lazer que estamos desenvolvendo buscam atrair o carioca. Teremos dois quiosques na praia. E o estacionamento será prioritariamente dos hóspedes, mas vamos abri-lo ao público – revela Oliveira.
Quem for ao hotel também vai rever obras de arte restauradas. A sereia esculpida em ferro por Alfredo Cesquiatti, que combina com as curvas do andar térreo, estava em bom estado e foi repintada. O painel de concreto do artista Carybé foi restaurado e voltará a ser exibido no lobby. A obra, de 45 metros de comprimento por três de largura, estava deteriorada, e a maioria de suas 270 peças, guardada em um depósito, em São Cristóvão. A recepção também terá um candelabro de Pedro Corrêa de Araújo, com 12 metros de comprimento por 1,5 metro de largura, outro artigo recuperado.
Em 2017, os investidores voltarão seus esforços para a abertura do centro de eventos do hotel, programada para o fim do ano. O antigo anfiteatro dará lugar a um piso reto que poderá ser subdividido em quatro espaços independentes. A notícia da revitalização do Hotel Nacional chegou como um presente de grego para alguns moradores de São Conrado. Dentro do pacote de reforma do hotel veio a construção de duas torres. Inicialmente, elas seriam comerciais, mas a lei de zoneamento do bairro as classificou na categoria de “uso não conforme”, por estarem numa quadra turística, onde só é permitido erguer hotéis ou moradias. A alternativa encontrada pelos investidores foi mudar a classificação para residencial e tentar a aprovação na prefeitura, o que ainda não ocorreu.
O arquiteto Marcos Leite Bastos explica que a intenção é construir os dois prédios em cima do centro de convenções. Cada um teria 13 andares e atingiria no máximo 42 metros de altura, conforme a legislação. A previsão é construir 257 apartamentos, todos com uma vaga de garagem debaixo da área de eventos, embora as operações das unidades residenciais e do hotel devam ser independentes.
Temendo o adensamento populacional e a descaracterização do bairro, aproximadamente cem moradores se uniram no grupo SOS São Conrado e reagiram contra a construção das torres. Eles já fizeram ao menos cinco protestos públicos, além de uma denúncia acatada pelo Ministério Público, que instaurou um inquérito e já fez diligências para averiguar a situação.
O pesquisador Mauro Marzochi, integrante do grupo, mora no bairro há 32 anos e frequentava o Hotel Nacional nos tempos áureos. Diz que costumava ir ao bar do lobby para tomar caipirinha com os amigos. Ele faz questão de ressaltar que os moradores são contrários apenas à construção dos novos prédios:
– Ninguém é contra a revitalização do hotel. Isso é bom para o bairro, mas a construção de duas torres residenciais sobre o centro de convenções se constitui na mais deslavada especulação imobiliária em favor dos empreendedores da revitalização do Nacional e de uma elite econômica da cidade. Imagine o poder público, no intuito de revitalizar o Palácio da Alvorada, ou o da Justiça, em Brasília, autorizar a construção de um anexo comercial ou residencial como forma de pagamento da empreiteira responsável pela obra?
O grupo recebe críticas de outros moradores do bairro, que os define como elitistas preocupados apenas em perder a vista que têm de seus apartamentos, que seria parcial ou integralmente obstruída pelas torres. Marzochi rebate dizendo que o compromisso é com a preservação do patrimônio histórico, cultural e arquitetônico do bairro.
– A preocupação deste grupo não é com a vista. O problema é que a paisagem urbana de São Conrado está saturada. Serão mais mil novos moradores, e hoje cada família tem um ou dois carros. Os danos podem ser enormes – afirma.
Enquanto a situação não se resolve, os investidores e a Meliá desenvolvem ações junto à comunidade. O hotel se aproximou de clubes de serviços e de associações, e, semanalmente, leva moradores ao canteiro de obras para apresentar o projeto de revitalização. Além disso, após o fechamento da rua que passava por dentro do terreno do hotel, os empreendedores construíram uma nova, 50 metros adiante, e a doaram ao município.
– Esta via passava por uma área do hotel. Nós a fechamos e trocamos o pavimento para diferenciá-la das demais, mas, em contrapartida, construímos uma outra passagem para os moradores – reforça o arquiteto Bastos.
De acordo com Rui Manoel Oliveira, a maior parte das 370 vagas de empregos diretos que o hotel vai criar será preenchida por moradores da Rocinha.
– Nós desenvolvemos um projeto de qualificação de mão de obra e treinamento na comunidade. Embora queiramos tê-los conosco, porém, eles são livres para escolherem outros empregos – explica.
O presidente da Associação dos Moradores e Amigos de São Conrado (Amasco), José Britz, mostra-se favorável ao empreendimento:
– A revitalização do hotel é vital para o bairro. Foi um milagre esse prédio não ter sido invadido neste tempo que ficou fechado. As pessoas que estão preocupadas têm todo direito de se manifestar, mas penso que temos que ver o lado positivo da ocupação.