Pouco incentivo à construção civil e falta de condições atrativas para financiamento direto com as construtoras agravam déficit habitacional no país
A casa própria é o sonho de todo cidadão e o pesadelo de todo governo, pois é uma tarefa extremamente difícil equacionar as medidas de incentivo do governo com a demanda habitacional do país. O levantamento Déficit Habitacional no Brasil, realizado pela Fundação João Pinheiro e divulgado esse ano, mostrou uma carência por de 6.186.503 milhões de domicílios, o que representa 9,3% dos domicílios particulares permanentes e improvisados.
Atualmente, o financiamento habitacional concedido pelos bancos é a forma mais fácil de se conseguir o objetivo da casa própria. É uma possibilidade que se concede ao trabalhador com renda de adquirir o imóvel pagando parcelas, ao invés de ter de desembolsar valor muito alto para aquisição de uma casa ou apartamento, como observa o presidente da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH), Vinícius Costa. “Outro ponto que conta bastante para facilitar a aquisição da casa própria são programas como o Minha Casa Minha Vida, que possibilitam famílias de baixa renda adquirir o imóvel com prestações bem abaixo do valor normal de mercado, benefício de desconto na aquisição e até taxa de juros muito mais atraentes”, aponta
Contudo, a questão deve ser vista sob uma visão mais ampla, segundo Vinícius Costa. Isso porque hoje há o problema vivido pelas grandes construtoras do país. “Não se vê mais, atualmente, um cenário favorável à construção civil nem mesmo uma grande quantidade de imóveis em construção como se viu nos anos de 2009 a 2014. O auge vivido pelas empresas foi, em alguns casos, substituído pela crise econômica que levou muitas delas ao pedido de recuperação judicial ou até mesmo de falência. Como exemplo, temos construtoras de renome como PDG, Viver/Inpar, Habitare, dentre outras.”
Outro fator que influencia negativamente no mercado são as medidas tomadas pela Caixa Econômica Federal de elevação da taxa de juros e redução da parcela financiável. “Em épocas de ouro, chegamos a ter a possibilidade de financiar 100% do imóvel a uma taxa de juros média de mercado na casa dos 8% ano. Atualmente, o cenário nesse ponto também é desfavorável, uma vez que não se financia mais 100% do imóvel e a taxa média de mercado tem atingido patamares de 10% ao ano. Para imóveis usados, a Caixa financia apenas 50% do valor”, indica o presidente da ABMH.
A união desses fatores afasta o consumidor do mercado imobiliário, impactando a economia do país e também o desenvolvimento das atividades das empresas do ramo da construção civil. Para que esse cenário mude, e o mercado volte a aquecer é necessária uma ação em conjunto das empresas e do governo, como acredita Vinícius Costa.
Por parte do governo, o presidente da ABMH diz que cabe um maior incentivo à construção civil, concessão de benefícios fiscais, se possível, tentativa de manutenção de uma situação mais controlada da economia, em especial no que diz respeito aos preços dos insumos da construção civil. “Além de facilidade na aquisição do financiamento habitacional pela população, principalmente no que se refere às condições do contrato. Pelas construtoras, cabe repassar ao consumidor todo benefício concedido pelo governo, praticar preços justos, entregar os imóveis nas exatas condições prometidas, em especial quanto ao prazo de entrega da unidade.”
Essa conclusão Vinícius Costa tira devido aos atendimentos que são feitos pela ABMH. “Por tudo que passou e que vem passando, o consumidor não confia mais nas empresas da construção civil, nem mesmo nos operadores dos financiamentos habitacionais. Por mais que estes sejam as grandes potências do mercado, não dá para esquecer que este não existe sem consumidor. Portanto, se não houver uma mudança política das empresas de trato do seu cliente e transparência nos negócios, a confiança do mercado de consumo continuará baixa e os negócios imobiliários consequentemente também”, finaliza Vinicius Costa.